quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

"Mamã, onde extá a tua pilinha?"



Esta é já a segunda vez, no último mês, que fico em casa para cuidar de ti. Estou a gastar os dias de férias que não tirei no verão, mas, apesar de não saberes, estão a saber-me melhor do que três meses no resort mais procurado das Caraíbas.

Neste preciso momento, estás sentado ao meu colo enquanto escrevo estas palavras. Sei que queres aproveitar estes dias para estares o máximo de tempo junto a mim, mas faço-o só porque não quero esquecer o que tenho para te dizer. Perguntas-me: "O que extás a fajer, mamã?". Digo-te que estou a escrever uma carta para ti, enquanto faço malabarismos para não me apagares o texto.

Quero que saibas que não há preço para os momentos que me tens proporcionado. Estes dias serviram para te ensinar a fazer sopa, para fazermos biscoitos pela primeira vez, para perceber que já sabes o nome da nossa rua, que dizes "tantos" quando queres dizer "muitos", que gostas do sabor da romã ou que ficaste a saber o que era o Natal enquanto decorámos o primeiro pinheiro juntos.

Há minutos, enquanto tomávamos banho ao mesmo tempo pela primeira vez, perguntaste-me: "Mamã, onde extá a tua pilinha?". Eu sorri, como faço sempre que me surpreendes com o milagre do teu crescimento, e expliquei que sou menina e tu és menino e que, por isso, somos diferentes.

Sei que o tempo passa a correr, a uma velocidade assustadora, mas sei também que em breve, vou ter saudades que me faças perguntas, daquelas que ainda sei responder. Tenho medo dos dias em que não serei capaz de acalmar os teus receios, em que não saberei dar resposta às tuas angústias. Agora, ainda pensas que sei tudo e assim será por mais algum tempo, mas um dia não te vou saber dizer se as coisas más nos acontecem por acaso ou se o nosso destino já estava traçado e não temos forma de fugir a ele.

O que mais peço é que tenhas a sorte de desfrutar de muitos momentos felizes ao longo da vida, mas, sobretudo, que tenhas a resiliência necessária para ultrapassar os dias menos bons, aqueles em que não vou saber dar-te as respostas que precisas.

Entretanto, saíste da mesa e aproximas-te agora, feliz, com o teu boneco novo. Saíram-lhe as meias. Dizes-me que tem frio e pedes-me para lhas calçar. Eu sorrio com algumas lágrimas a cair-me no rosto. Percebes e dizes-me: "Mamã, tens j´água..." e eu respondo: "Sim, meu amor, foi de tomar banho...".

"Eu não sabia, mas o destino quis que eu fosse tua mãe".
Forrest Gump

 
A fazer xopa.
 
 
A fajer bizcoitoj.
 
 
A fajer a árvore de Natal.

23 comentários:

  1. A fazer refresh à espera das fotos (que são desnecessárias tendo em conta as palavras)...
    Adoro o teu blog! ;)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigada, Jelly Pearl e podes parar com o refresh que só consigo metê-las amanhã :-)

      Eliminar
  2. São textos como estes que me fazem ter algumas dúvidas quando digo que não quero ter filho...
    Foi lindo!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Mónica, sempre soube que iria ser mãe, mas, por razões pessoais e que dariam um outro post, adiei a maternidade o mais possível. Fui mãe aos 38 anos. O que tenho a dizer sobre isso é que vai saber quando chegará o momento certo. Não apresse se não tem ainda vontade. Um dia ela vai chegar. E o caminho que a espera será maravilhoso. Obrigada! Beijinhos

      Eliminar
  3. Lindo! A Caco é uma mãe maravilhosa! =)

    ResponderEliminar
  4. Tão bonito, isto que escreveste. Esquece as fotografias. Serão lindas e tudo o mais. Mas esquece-as, se assim quiseres. Estas palavras bastam, de tanto que são.

    Muitas coisas boas para ti. Para o teu menino.

    Mar

    ResponderEliminar
  5. Coincidências.... também estive por duas vezes, em novembro, alguns dias em casa com o meu piolho... foi tão bom, tão bom que às vezes até me sentia culpada por gostar de estar com ele em casa doente!! Como se fosse bom ele estar doente!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Exatamente, Sofia! Cheguei a pensar o mesmo. Beijinhos ;-)

      Eliminar
  6. O Poder do Amor mais forte e mais genuíno que existe. Este sentimento avassalador que nos "rouba" o sossego e que chega a doer, não se compara a nenhum outro. Que tudo lhe corra bem e as melhoras do pequenino.

    ResponderEliminar

Deita cá para fora!